terça-feira, 11 de outubro de 2016

Meu pé de Maracujá

José Jorge Leite Soares
Quem escreve crônicas, acaba desenvolvendo uma habilidade em observar o cotidiano e dele extrair assunto para o próximo texto.
Neste final de semana estava saboreando o livro Trinta e Poucos, crônicas do Antonio Prata, ao me deparar com "Mexerequeira em flor". De súbito, larguei o livro e peguei o meu iPad. Já tenho assunto para a minha nova crônica, pensei cá com meus botões.
Anos atrás, havia comprado em um antiquário uma preciosidade. Uma antiga porta de madeira e aguardava a oportunidade de aproveitá-la em algum lugar. Com saída de nossos filhos e vivenciando a síndrome do ninho vazio, decidimos construir uma casa para abrigar a nós e à nossa nova porta.
Contratado o projeto e concluída a construção, eu havia esquecido que o excesso de claridade, além do brilho das manhãs e do viço das plantas, traz consigo, também, uma onda de calor sem igual! Nossa varanda, onde tomávamos o café da manhã e nos reuníamos em torno da mesa, não nos concedia a sensação de aconchego e conforto que tanto desejávamos.
Dizem que ninguém aguenta ladainha de mulher...  E, antes que a minha mandasse construir um aquário de vidro em torno da varanda e colocar um aparelho de ar condicionado, antecipei-me e seguindo o conselho de um amigo, fiz construir um pergolado de madeira para que pudesse quebrar o mormaço que se abatia a cada dia sobre nossas cabeças.
Decidimos sair em busca de duas belas mudas de maracujá que foram plantadas em covas muito bem adubadas. Acompanhamos, com registro fotográfico o crescimento diário das duas mudas. Cheguei até a fazer um um making of da disputa entre elas para saber qual delas seria a vencedora.  Impressionante como crescem rápido! Cerca e 5 a 6 cm por dia.
Dois meses depois, já estavam quase tocando a parte superior do caramanchão. As chuvas chegaram, os ramos se espalharam e, de repente, a ramagem já projetava uma sombra e uma enorme sensação de conforto em nosso espaço.
Numa bela manhã ensolarada, a presença das abelhas mamangavas nos chamava a atenção. Prenuncio de néctar e do pólen! A natureza nos dava o alerta que as lindas flores do pé de maracujá estavam por vir.
Eu cuidava da poda, retirando folhas murchas e pequenos galhos inconvenientes que teimavam em buscar um percurso diferente daquele por nós almejado.
A cada dia que passava, a nossa cobertura vegetal se apresentava mais fechada e mais bonita. Uma proliferarão de tonalidades verdes muito mais farta que todas nuances das bisnagas de tintas guardadas em meu cavalete de pintura. Mas, maracujá que é bom, necas!
Havia convidado uns amigos para um jantar em nossa casa e, nesse final de semana, ao fazer o meu programa predileto da feira, deparei-me com uns lindos maracujás. Enormes, amarelos, brilhantes. Não hesitei, comprei uma dúzia deles.
À noite, ao entrar na cozinha pouco antes da chegada dos amigos, inclusive daquele que havia me sugerido a ideia do pergolado, deparei-me com aquelas lindas frutas decorando um prato em cima da bancada.
Blin, blin! Ocorreu-me uma ideia! Corri em busca de um fio de nylon transparente e amarrei um por um, aquela dúzia de maracujás, dependurando-os todos sob os galhos tenros do meu pé de maracujá.
Pronto! A cena estava completa. Os amigos foram chegando quando, de repente, ouço um chamado:
Jorge! Vem ver!!!!  Nosso pé de maracujá está todo carregado. Que lindo!
A mim, só me coube concordar.
Tive que acordar bem cedo no dia seguinte. "Colhi todos eles" e tomamos o melhor suco de maracujá da nossa vida.
Beth só vai ficar sabendo disso se vocês contarem para ela.
Mas, segundo minha amiga Raquel, se eu tivesse dependurado uma dúzia de goiabas, ela iria me chamar do mesmo jeito e dizer:
− Jorge! Vem ver!!!! Nosso pé de maracujá está cheio de goiabas!

Isso é que se chama credibilidade!

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