segunda-feira, 11 de março de 2013

COLUNA DO SARNEY: O papa e São Bento


Na minha infância, a maior parte vivida em São Bento em casa dos meus avós paternos, Dona e José Costa, o papa, o Santo Padre, como se chamava, era uma figura sagrada, apontada como um santo na terra e colocado numa redoma em Roma onde tinham acesso apenas os escolhido por Deus. Nem seu nome era conhecido pelos cristãos, porque as missas eram em latim e não havia a oração da comunidade para dar chance a que se rezasse por ele.
Pela graça de Deus, nos longos anos que Ele me deu, vivi sob o tempo de sete papas.
Quando nasci era Pio XI, um pontífice que tinha uma visão social, condenou o nazismo e o comunismo e pregava que a igualdade seria alcançada pela doutrina social da igreja. Morreu em 1939 e foi eleito o seu pupilo, então secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Pacelli, homem de grande valor intelectual. Quando cardeal visitou o Brasil, em 1934. Foi ele que proclamou o dogma da Assunção de Nossa Senhora. Seu pontificado foi marcado pela Segunda Guerra Mundial, quando foi apontado por uns como condescendente com o nazismo e, por outros, como tendo uma posição destinada a salvar judeus e católicos das perseguições de Hitler. Morreu em 1958, quando eu tinha 28 anos e vi a eleição de João XXIII, o papa que criou a igreja moderna com o Concilio Vaticano II. Durou poucos anos e foi sucedido por Paulo VI (1963 a 1978). A este já conheci pessoalmente e a ele assisti, em companhia do grande nome da diplomacia brasileira, embaixador Expedito Rezende, celebrar a missa de Natal de 1977, já bem velhinho e com muita dificuldade para ajoelhar-se. Depois, quando ele morreu, em 1978, vivi os trinta dias de João Paulo I, o Papa Sorriso.
Como todo o mundo cristão, assisti ao anúncio na televisão da escolha do cardeal Woityla, polonês, como João Paulo II, o grande papa do nosso tempo, essa figura carismática que, com sua capacidade e fé, evitou o cisma da Igreja e foi um momento de grande brilho do catolicismo, inclusive como homem de Estado que mudou a História evitando a confrontação nuclear ao ajudar a queda do mundo comunista. Com ele estive três vezes, duas vezes em audiência pessoal, e por ele fui convidado a assistir à missa particular que celebrava em sua capela pessoal, no Vaticano. Roseana também uma vez que passou por Roma foi convidada por ele para assistir sua missa privada. Ele a tratava sempre com grande carinho.
Minha mãe, quando ele foi eleito, me perguntou perplexa: “Meu filho, escolheram um papa comunista?” Foi difícil para ela entender que um homem vindo da Polônia vinha justamente para combater o comunismo que, para ela, era contra Deus, contra a Igreja e perseguia os cristãos. Depois, entre as felicidades que arrolava como graça de Deus para com ela estava ter visto e comungado pela mão de João Paulo II, quando ele visitou o Maranhão. “Deus foi tão generoso comigo que me deu a ventura de ver o Papa e dele receber comunhão”.
A figura do papa nas alturas me foi passada pela minha mãe e encheu minha infância e minha vida.
Com a morte de João Paulo II, viajei do Brasil em companhia de Dom Odilo Scherer – que agora é papável – para assistir seu funeral e vi a eleição de Bento XVI.
Estive com o papa Bento XVI duas vezes: uma em audiência em companhia do embaixador Seixas Corrêa, outra quando ele visitou o Brasil.
E agora estou assistindo à escolha de um novo papa, o oitavo de minha vida, num momento tão difícil de nossa Igreja. Ela atravessará todas as dificuldades, como atravessou todos os tempos.
O papa será sempre o papa da minha infância em São Bento, símbolo da fé, guia espiritual de todos nós.

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