quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Meus primeiros 100 anos


José Márcio Soares Leite

No dia 21 de janeiro deste ano tive a felicidade de participar do
aniversario natalício da senhora Inês de Castro Loureiro, que completou 100 anos,
cercada pelo carinho dos filhos e amigos que ali se fizeram presentes, regozijando-se em
vê-la lúcida, loquaz e a manter com todos uma boa prosa, bem ao estilo de sua verve.

Ao nos despedirmos, mais uma grata surpresa, fui presenteado pela
anfitriã com um exemplar de sua obra “Meus primeiros 100 anos”, que, segundo relato
da filha Moema, foi todo escrito a partir da narrativa de D.Inês.

Confesso que, logo ao chegar em casa, não resisti à curiosidade e
comecei a deleitar-me com tão preciosas páginas, a narrar fatos de sua vida pessoal
e principalmente acontecimentos importantes da história de Pinheiro no século XX,
sob os pontos de vista sociais, médicos, econômicos, religiosos, políticos, culturais
e educacionais, com riqueza de detalhes, haja vista ter sido protagonista de muitos
deles. Uma narração simples, bem ao seu estilo, mas de leitura prazerosa, que desperta
o interesse de conhecer e até mesmo de entender importantes passagens históricas
sobre o cotidiano daquela cidade, sua gente, seus costumes, seus desenvolvimento e
crescimento econômico, cenários esses que eram desconhecidos por mim e creio que
por muitos pinheirenses.

Um livro que, sem duvida alguma, vai somar-se a mais uma descrição
histórica da nossa Cidade de Pinheiro, completando e até acrescentando algumas
vezes, o que está escrito nas obras “Quadros da Vida Pinheirense”, de Jerônimo de
Viveiros, “Pinheiro em Foco”, de Aymore de Castro Alvim, “Coisas de Antanho”, de
Josias Peixoto de Abreu, “Lugar das Águas”, de José Jorge Leite Soares e “A Saga de
um Lutador, do Parnaiba ao Pericuma”, por mim escrito, sobre a biografia de meu pai
Orlando Leite.

Inês revela-nos, por exemplo, importantes acontecimentos da história
da saúde pública em Pinheiro, muitos dos quais gravitaram em torno da Farmácia da
Paz, de propriedade de seu primeiro marido José Paulo Alvim, homem de inteligência
brilhante, e que por muitos anos cuidou da saúde da população até que a cidade viesse a
ter seu primeiro médico.

E importante destacar também que, mesmo talvez não sendo essa
a sua pretensão, a obra termina por revelar-nos, no campo da sociologia, como se
processava a vida cotidiana da cidade, os tipos humanos que formavam a sociedade
pinheirense do século XX, cuja convivência e congraçamento eram característicos de
uma única e grande família, à exceção de alguma situação política pontual.

Por ultimo, a autora nos dá uma dica sobre o que devemos fazer para
alcançar uma idade tão longeva, a saber: “Viver, viver e viver. O primeiro viver. Olhar
a vida sempre com otimismo. Ao levantar-se sentir o sol invadindo a alma, fortificando
o espírito; O segundo viver. Preparar o corpo para as lides diárias e para o futuro; O
terceiro viver. Manter-se atualizado com o mundo a sua volta. Leia muito sempre".

Esta lição de D. Inês fez-me recordar a obra “Regimen Sanitatis
Salernitatum” (O Regimento de Saúde de Salermo), escrito provavelmente no século
XII, e publicado na Inglaterra, na Itália e na Alemanha no século XIX. Escrito em
versos, que bem ilustram este clássico de educação em saúde: “Por estas linhas a Escola
de Salermo deseja. Toda saúde ao Rei dos Ingleses e aconselha. A mente, mantenha
livre de cuidados, e, da ira o coração. Não beba muito vinho, ceie pouco, levante cedo.
Depois de comer, ficar sentado causa danos. Depois do almoço, mantenha aberto seus
olhos. Quando sentir as necessidades da natureza, não as retenha, pois é muito perigoso.
E use ainda três médicos, primeiro o doutor descanso, depois o doutor alegria e o doutor
dieta.”

Ao finalizar este artigo não vislumbro algo mais significativo para
homenagear Inês de Castro Loureiro, pelos bem vividos 100 anos, do que este trecho de
um poema do seu segundo marido, o poeta e acadêmico Abílio Loureiro: “Tens no rosto
Inez, a luz divina. Nos olhos, os raios típicos da alvorada. Beleza escultural da minha
alma. Do meu vergel és rosa que ilumina...”

Professor Doutor em Ciências da Saúde. Presidente da Academia
Pinheirense de Letras, Artes e Ciências.

Nenhum comentário:

Postar um comentário