terça-feira, 21 de agosto de 2012

COLUNA DO SARNEY: A Paixão, referência


O Cristianismo não quis mudar o mundo, quis mudar os homens para mudar o mundo. Dostoievski compreendeu essa mensagem e disse: “Para renovar o mundo, é preciso mudar.” Diz São João, falando sobre a Paixão, que “Cristo amou os homens até o fim”. Toda a sua doutrina foi ensinar coisas simples, sem nenhuma complicação, fáceis de serem entendidas, sem necessidade de especulações filosóficas e teológicas.
No tempo em que viveu, havia uma sociedade estruturada na violência, de escravos e senhores, e um mundo em que ninguém sabia de onde vinha nem para onde ia. Havia muitos deuses e muitos escolhidos. O trabalho era tarefa de escravos. Foi o Cristianismo que dignificou o trabalho.
“Todos somos irmãos, filhos do mesmo pai, que nos deu a graça da vida; devemos, assim, amar aos outros, perdoar os nossos inimigos, rezar por eles”, foi a ideia-síntese.
Disse também que a felicidade não estava nos bens materiais nem no poder, mas na paz interior. Ricos e pobres podem ser felizes. Há pobres felizes e ricos infelizes, porque o essencial é a paz de espírito, isto é, a ausência de pecado. E o que é o pecado? É uma conduta moral contrária aos preceitos de Deus e da convivência humana. O pecado é o mal, na fabulação do Diabo.
O Cristianismo deu ao homem a esperança da salvação, principalmente aos pobres, que, marginalizados, tinham apenas por vida o próprio sofrimento. Vem Cristo e diz que todos estão destinados à salvação e não morrerão jamais. O dia em que todos os homens, em todos os lugares, acreditarem e viverem nessas verdades, terão a sua paz, e a humanidade, a “paz perpétua”, como desejava Kant.
A Semana Santa é sempre o momento de meditar sobre o mistério da Paixão, seu significado, sua mensagem.
Dizia o padre Vieira, repetidas vezes, nos Sermões do Mandato, da necessidade de interpretarmos o verdadeiro sentido do calvário. Como um Deus se deixa crucificar? Foi para, por amar os homens até o fim, manter o sentimento do livre-arbítrio, da liberdade, o maior bem do homem.
Caso Deus se revelasse, desapareceria a essência da criação do homem. Deus conduz a humanidade no seu mistério, e cabe a nós acreditar. Cristo assumiu a condição humana e viveu todos os sofrimentos, até a expressão mais trágica, que é a injustiça e a morte, com a marca da crucificação.
“Minha vida não é deste mundo.” O Cristianismo veio fazer os homens mais felizes. Dar-lhes a esperança da salvação. Não é uma doutrina econômica nem uma ciência social: é uma esperança de vida. Cristo não veio para criar angústias, insuflando no coração dos injustiçados o ódio e a revolta. Veio para salvar as almas, porque, no momento em que se acredita na vida eterna, no amor ao próximo, mudamos nós e o mundo.
A Semana da Paixão termina com a festa da Ressurreição. Dizia São Paulo que “sem ressurreição não há cristianismo”. Quem acredita em Deus tem a segurança de ter ao seu lado a única coisa definitiva que nos serve de referência e amparo: Deus, que um dia me receberá e vai pedir que eu lhe conte histórias do Maranhão.

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